12 de mar. de 2014

FANFIC: O Anel de Noivado — Capítulo 04 ∞ O almoço



Os espasmos, carregando dores das mais cruéis, tomavam conta de cada parte de meu corpo, mas eu tinha certeza que minha confusão mental era muito maior que tudo o que se passara andares abaixo. E aquilo, eu tinha certeza, era capaz de arruinar o meu eu. Como eu conseguiria imaginar que Edward, meu primo, tinha tanto ciúmes de mim, ainda mais a alguns passos de concretizar um pedido de noivado na frente de quase cem pessoas – para firmar, essencialmente, o status existente em cima do sobrenome Cullen?

Não haviam respostas – somente confusão. Uma confusão inexplicável e totalmente desconfortável. Eu sequer tinha certeza se eu olharia meu primo com os mesmos olhos.

Sem motivos, ele dera uma crise de ciúmes na frente de toda a família e eu, consequentemente, brigara com ele, fazendo James pagar por uma causa que não era dele. Não podia negar que me sentia magoada, desconfortável e ferida com toda aquela situação, por ser aquela uma reação inesperada. Falei mais do que eu deveria, de fato, falar. E aquela situação proposta por Edward não facilitava em nada para nós dois – só de pensar, meu peito apertava de uma maneira inexplicável.

Era inexplicável o modo em que a decepção tomou conta mim, parecendo-se, simplesmente, que a pior coisa do mundo tivesse me acontecido – como se assemelhasse-se ao fato de eu ter participado de algum atentado e estivesse terrificamente ferida. Eu estava total e irremediavelmente ferida, essencialmente pela ação optada por Edward – uma situação sem explicação e descomedida.

Estava tentando, com todas as dificuldades possíveis, engolir a ideia de que ele, às vésperas de seu noivado, resolvesse mudar de opinião, sem ter muitas explicações. Sentimentos não eram explicações naquele caso. Deveria ter algo a mais naquela história toda – sempre havia uma explicação mais ampla que um sentimento que, segundo ele, sempre existira. Talvez fosse o orgulho ferido que surgiu repentinamente após ver a dedicação que eu, possivelmente, o daria se ele estivesse no lugar de James.

Mas de que me adiantava tentar buscar explicações, ainda mais quando eu estava com a cabeça mais revolta que um ciclone?

Mais parecia que minha mágoa tomava conta daquele quarto, principalmente o lugar em que me sentava – a poltrona anteriormente ocupada por Edward. Qualquer um notaria que a atmosfera não era o dos melhores; qualquer um, menos ele.

James bateu à porta de meu quarto, mas não anunciou-se e adentrou aquele ambiente sem pedir qualquer tipo de permissão sonora ou gestual. Ainda assim, eu optei por não retrucar sua quase falta de respeito, uma vez que a minha autoestima parecia estar baixa demais para, até mesmo, fazer uma tentativa de levantar meu olhar e encará-lo. Aquela não era a melhor das ideias: minha cabeça parecia girar muito em relação a tudo o que ocorrera dentro daquele ambiente e fora dele também.

— Eu não entendo porque você está tão triste, Tanya. Não gosto de te ver dessa forma e isso não é nada tão importante assim para você se preocupar tanto, afinal…

Fitei-o bem dentro de seus olhos, como se eu tentasse encontrar algum sinal de arrependimento vindo da parte dele, mas como não consegui encontrar nenhum rastro de emoção no que dizia o geral, comecei a falar, demonstrando-o o quanto me importava com ele:

— Você não precisa se submeter a tudo isso, James. Eu juro que não. Eu ainda não entendi porque você aceitou o convite de Alice para estar aqui. Como você consegue se submeter a isso e ainda dizer que tudo está perfeitamente bem? Edward quase quebrou seu nariz e eu ainda não compreendo porque você ainda não pegou seu carro e voltou para Nova York. É estranho demais porque ninguém nunca teve essa ligação tão forte comigo, seja por amizade ou por qualquer outra…

— Ei — ele pronunciou-se, me interrompendo. — Eu estou aqui porque me importo, não é? Caramba. Eu pareço ser frívolo a maior parte do tempo, mas não é bem dessa forma que devemos parecer um ao outro, afinal nós temos uma ligação não só profissional, mas carnal e, possivelmente, uma amizade ou até algo a mais, que é um elo, no geral, que aconteceu de uma forma tão rápida que chega a ser inexplicável. Espero, ao menos, que você entenda dessa forma, Tanya, porque se eu não me importasse com você, eu não teria aceitado o convite forçado de sua prima, você sabe bem disso — ele respirou fundo e pareceu contar até dez ou mais alguns números antes de resolver prosseguir. — Se fosse somente uma transa, ótimo, mas eu sempre quis algo a mais. Sempre quis desvendar o mundo estranho daquela advogada gata, estranha e antissocial da qual ninguém se aproximava por achar que ela era sisuda inclusive na vida pessoal, mas, na verdade, eu sempre soube que a ideia existente na pessoa Tanya Denali era a mesma pregada pelo lobo e a ovelha, só que ao contrário. Você é extremamente doce, só que as pessoas não conseguem ver isso porque você não as deixa se aproximar.

— Isso é uma espécie de sermão? De lição de moral? — eu disse, dando um meio sorriso e secando a região molhada abaixo dos olhos com a palma da mão. — Quem sabe você tenha me feito reconhecer isso? Eu não sei lidar com as pessoas no que é tocante ao lado pessoal. Não estou acostumada a me envolver com outras pessoas de uma forma que não seja relacionada aos negócios e, bem, a minha própria família. Tanto que eu nem tenho amigos e você não me vê saindo por Nova York buscando horas de diversão com eles – somente com Irina. Lógico que eu tive alguns relacionamentos, mas isso não significa que eu saiba lidar tão bem com eles.

— Ok. Eu compreendo, Tanya. E não serei crítico. Mas creio que você precisa ficar bem para a festa que haverá em breve. Em horas, aliás. E seus familiares estão te esperando para o almoço lá embaixo. Sua avó me disse que precisa conversar com você e te dar um abraço, principalmente por sua conquista mais recente.

Quem ligava para conquistas naquela confusão mental?

Eu não me importava; mantive minhas dúvidas comigo mesma. Depois da procura de Edward por mim, dizendo o que havia me dito, era um pouco duvidável que ele não fizesse o que fora prometido, mesmo a frente da centena de pessoas que haviam respondido ao RSVP, inclusive a família de sua futura esposa, que havia saído de algum canto desconhecido dos Estados Unidos. Eu não conseguia me colocar em uma possível agradável em relação aquilo – mesmo porque só haviam dúvidas em minha mente –, mas eu julgava conhecer Edward bem o suficiente para saber que ele não faria o que havia me falado e o meu conhecimento sobre aquela pessoa durante anos e anos fazia-me crer – mesmo em duvidas cruéis – naquilo.

Contudo, ao mesmo tempo, algo me dizia que as aparências enganavam e eu não queria fazer parte daquela rede de mentiras; não queria me deixar envolver, pois sabia que estaria perdida, por mais que tudo conspirava a dizer que a minha vida tinha tudo para dar certo. Não seria um jogo de azar proposto por meu primo que me faria desviar de alguns dos meus objetivos após uma luta cheia de suor.

James beijou minha testa após me observar bem, tendo em vista que, a todo tempo, ele ficara em pé na minha frente. Assim, ele seguiu em direção a porta, falando-me assim que girou a maçaneta:

— Arrume-se. Alice falou que é para você descer para o almoço custe o que custar e que começaria a te importunar antes mesmo de você descer disso, mesmo porque vocês precisam estar prontas antes das seis e com certeza, desde o momento em que a conheci, tive plena certeza de que ela não é capaz de dizer uma só palavra em mentira.

Eu acreditei nas palavras dele, mesmo que eu tivesse sérios problemas com a crença em pessoas, talvez algo que tivesse muita afinidade com a minha profissão, algo me dizia que eu devia acreditar em James – de uma maneira, novamente, inexplicável. Daquela vez, eu obriguei-me a acreditar em alguém – no caso, aquele invasor. Não era negável que o que ele falava era real – Alice muito possivelmente nutria algum tipo de transtorno obsessivo compulsivo, já que vivia me perseguindo, achando erros em mim, dizendo que eu era passível de mudança. Mas aquela era Alice… E como não amar aquela sujeita teimosa?

Por fim, assim que ele passou por aquela porta entreaberta e a fechou, eu fui até o closet pegar a roupa já separada para a ocasião da noite, apesar de não muito animada para isso, e também um par de jeans azul, um par de sandálias na cor nude e uma camiseta regata, fora a roupa intima, e voltei ao quarto para deixar todas essas coisas sobre a cama. Eu sabia que precisava cumprir com o meu papel, conforme forçada por minha prima. Estava irritada com o fato de ser tão vulnerável, ainda mais quando guiada por uma criança, uma garota anos mais nova. Mesmo assim, eu não deixei de fazer o que foi solicitado por James.

Achava estranha aquela relação que com James. Era extremamente estranho tudo o que estava acontecendo entre nós, mas algo dizia-me que muito em breve eu me acostumaria com aquele excesso de zelo que partia dele. De todos os homens com quem ficara em sua vida, de longe James era aquele que parecia mais se importar comigo. Mas o zelo que era nutrido pelo promotor, nem de longe, era comparável com o zelo existente entre Edward e eu na época em que ele ainda não estava envolvido com Isabella.

Isabella era a ruína. Arruinara toda uma amizade, ou até mesmo uma irmandade, existente entre nós dois sempre tão presentes na vida um do outro, desde as primeiras conquistas da infância, até a formação nas graduações na melhor universidade estadunidense, quando dividíamos a mesma residência. E sem comparação, aquela foi a época em que as minhas admirações por Edward cresceram de uma forma inimaginável.

Era doloroso reconhecer essa minha falha enquanto já esfregava meu couro cabeludo com o meu shampoo favorito.

Claramente, a distração tomava conta de cada pequena parte do meu corpo. Meus pensamentos me levavam para tão além daquele ambiente que eu só consegui perceber que ensopava o assoalho de madeira fora daquele banheiro após o chamamento de Alice, vindo da porta do banheiro. Isso me despertou de meus devaneios, ainda mais após ela escancarar a porta daquele cômodo, dando um berro alto e referindo meu nome para que eu conseguisse pisar naquilo que definia como terreno plano.

— Alice, você está invadindo a minha privacidade! — eu berrei tão alto quanto ela havia feito, enrubescendo e querendo me esconder sob as espumas disponibilizadas pela junção entre os sais de banho e o shampoo.

— Você diz isso como se eu nunca tivesse visto uma mulher nua ou seminua na minha frente… — a pequena morena disse, me tratando com descaso; isso me deixou fula da vida.

— O que você faz ou deixa de fazer na sua vida, sinceramente, é problema seu, Alice, mas eu preferia continuar a não ter essa experiência — eu disse, já parcialmente emersa nas espumas, desviando-as com assopros vez por outra para que estas não entrassem em minha boca. — Seria demais se eu te pedir muito se você me desse um pouco, mas só um pouco mesmo, de privacidade enquanto eu termino de me banhar?

— Seria, mas como morro de medo de perder o emprego que sustenta os meus vícios, já que eu não mais recebo a mesada dos meus pais, eu te respeitarei, priminha — disse ela, sendo bastante superficial, demonstrando seu sorriso branco de deixar com inveja qualquer um não que não pertencesse a família Cullen ou Denali – o que custava o rigor do cuidado desde a infância, aliás. — Você tem cinco minutos para terminar de lavar essa palha de aço que você chama de cabelo. E mais cinco para descer para o almoço; todo mundo está te esperando.

— Você não está no papel de exigir algo de alguém, ainda mais se sua prima é a sua chefe. Saí daqui, Alice.

— Dez minutos — recordou-me ela, aquela pequena morena chata, antes de bater à porta.

Sem pensar duas vezes, tornei a emergi sem respirar, mas não por muito tempo. Além de não conseguir ter muito controle sobre a minha respiração, eu tinha medo de um possível afogamento. Então, logo, voltei e finalizei meu banho, envolvendo-me em meu roupão de banho e colocando o cabelo em uma toalha branca que tinha um bordado dourado com meu nome.

********

Alguns minutos depois, já estando vestida e prontamente maquiada, com os cabelos lisos após uma rápida escova: não haveria nexo esperar mais tempo. Eu havia extrapolado o tempo estabelecido por Alice, mas ela não havia comparecido ao meu quarto até aquele exato momento, o que me fazia ficar com o pé atrás em relação a minha prima.

Não optei por me demorar. Não havia motivos para isso, de qualquer forma, mas eu também não queria me indispor com Alice e o restante de minha família após o acontecido de mais cedo. A situação não parecia fácil, mesmo que Edward me procurasse, de qualquer forma, para pedir desculpas e falar absurdos sem quaisquer sinais de entendimentos possíveis - situação a qual eu estava tentando achar explicação, mas que eu já achava que não valia tanto perder meu tempo com isso. O estresse de Alice sobrepujava tudo - me irritava, em resumo.

Desci as escadarias daquela casa antiga sem fazer qualquer tipo de cerimônia e segui em direção ao salão de refeições, onde podia-se ver uma grande mesa arranjada para o almoço. As pessoas, meus familiares, estavam todos ali, e conversando quando me sentei junto a eles. Mas alguma coisa, alguns sinais quase nulos de emoção, em Edward fez o clima, até então bem calmo, ficar frio - de uma forma que, se palpável, poderia ser comparado a gelo seco, pois parecia pronto para queimar ao ponto de fazer mal.

Eu não percebera, até seguir o caminho feito pelo olhar de meu primo, que James adentrara aquela sala de refeições e estava se sentando na cadeira ao lado da minha.

Ver Edward corar de raiva me fez, repentinamente, bem, ao mesmo tempo em que sentir a presença de James fez parecer com que eu me sentisse péssima, uma vez que parecia que eu estava brincando com os sentimentos dele. Eu sabia que havia algo partindo dele sobre a minha pessoa, mas eu não conhecia muito da vida dele exceto pelo que ele me demonstrava no Tribunal e tal situação não era recíproca - era como se eu, simplesmente, estivesse me expondo a ele, mesmo que eu não desejasse essa situação; essa era uma situação que era superior as minhas decisões, principalmente o fato de estarmos indo rápido demais, e isso tudo se devia a uma pequena e irritante pessoa: Alice.

O clima ali já respondia as minhas perguntas internas: o jantar daquela noite seria um problemão que me traria grandes dores de cabeça. Todas as indiretas e olhares que aconteciam naquele almoço, com certeza, seriam triplicadas. Mas, por ora, satisfazia-me o fato de eu poder sair daquela mesa após o término das refeições sem que ninguém se ferisse.

E até a noite, isso foi o bastante.

********

Ao final da refeição, tal qual eu esperava, todos se levantaram aos poucos – começando por Edward –, restando, ao final, naquele cômodo, apenas James e eu. Repentinamente, eu senti-me um pouco incomodada por estar somente ele e eu ali, ainda mais após a conversa que, a pouco, ocorrera em meu quarto, principalmente sobre o fato de ele revelar que se importava comigo – eu nunca me informara sobre o assunto, mas até o ponto conhecido por mim, James não parecia ser o tipo de pessoa que costumava se importar com algo ou alguém; era, no mínimo, estranho.

— Eles estão preocupados com você, Tanya — ele expressou, saindo de seu lugar e parando na parte traseira de minha cadeira. — Com o que você pode fazer na festa…

— Fazer na festa? Eu? O que é que eu posso fazer na festa que pode prejudicar a imagem de todos eles? — perguntei, virando-me para olhá-lo. — A única pessoa que pode fazer algo, e se fizer, é o meu querido primo. Eu não tenho tempo a perder “fazendo algo” — eu completei, suspirando profundamente, e depois ergui-me de minha cadeira, sem parar de olhá-lo. — Não serei o motivo da vergonha nessa festa: o máximo que partirá de mim é tomar alguns drinks, como sempre faço, mas sei me controlar perfeitamente ao ponto de não falar, de forma alguma, qualquer besteira.

Não dessa vez,completei mentalmente. Não dessa vez.

Minhas últimas memórias sobre a última festa da família, a do casamento de Emmett e Rosalie, não eram tão atualizadas quanto relatavam. Aparentemente, eu fizera uma grande burrada, mas eu não fazia ideia de qual e eu não estava me importando muito com isso, sinceramente.

— De qualquer forma — ele continuou —, eu tomarei conta de você essa noite. Seus pais e seus tios me pediram esse favor. Uma espécie de precaução para você se manter longe de problemas.

— Ah…

Eu estava me segurando para não retrucar o cuidado repentino de James, pois sabia que se fizesse isso, sendo ambos donos de temperamentos fortes, eu perderia a minha razão e eu, realmente, não estava disposta a isso, pois sabia que por trás de todo o cuidado daquele homem estava toda a minha família zelando por uma festa de noivado “nos padrões sociais”.

Mas havia uma coisa nessa história toda que eu não entendia…

Por que idiotice eles haviam de me chamar para a festa de noivado de Edward e Isabella se eles tinham medo de eu fazer algo que ia contra as regras sociais que eles tanto prezavam? As malditas regras de etiqueta?

— Tudo bem para você? — ele perguntou. — Você está com uma cara de poucos amigos.

— Sim, eu acho — eu respondi com o meu habitual tom de voz alterado. — Eu só preciso descansar um pouco. Acho que não assemelhei muito bem a tudo que já aconteceu hoje.

— Acho que ninguém conseguiu assimilar, na verdade — ele confessou.

E ai eu lembrei da porcaria do nariz dele e a quantidade de sangue esparramado, fora o curativo branco aparente que ainda estava no nariz de James.

Bem, era melhor eu realmente me recolher em meu quarto até a noite.

Ou eu quebraria a cara de Edward se eu o visse cruzando o meu caminho.

— Eu te vejo mais tarde — disse, esboçando um sorriso amarelo.

— Até a noite — ele respondeu.

E assim eu me recolhi em meu quarto novamente. Até o final da tarde, ao menos.
 
 
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